segunda-feira, 30 de novembro de 2009


Juntos estaremos, depois que eu não mais existir.
Se me fizeres eterno, dentro de ti.

Testamento


Quando eu não mais existir,
Neste dia, que o sol perpetue sua continuidade.

Rejeitando a idéia de que o esquecimento dar-se-á com os de sua classe.
Com a idade!

Quando eu não mais existir,
Quem dera ouvir canto de pássaros!
Alegria de criança arteira,
Que enche os olhos da parteira,
Na certeza de que aquela meia filha aos passos rápidos,
Poderá mudar o destino, que vilmente
Tenta traçar a bala certeira.

Quando eu não mais existir,
Que de manhã bem cedinho,
o galo convide a vizinhança à cantoria.
Sem esquecer da aguardente preparada para essa sina.
Que todo moço ou moça, bonito ou feio, grande ou pequeno, companheiro do dinheiro ou da enxada, um dia há de se deparar.
E que não falte nenhum rebento!
Nem de seu Zé, nem de dona Maria.
Que de outra sorte, que adiantaria tanta guloseima,
se não houvesse nossos filhos a se fartar?

Quando eu não mais existir,
Quero ronco de carro veloz, quero sinfonia de berrante!
Quero testemunho de estrela cintilante,
dando conta de que bicho valente defronte de grota não desiste.
E nem precisa ponta de chicote a esfolar o teu cangote, para exibir tua condição de sagaz.

Quando eu não mais existir,
Quero meu roçado sentindo só mais uma vez o peso de meu braço.
Quero sentir escorrendo de minha face,
o gosto de suor sob a marcação do compasso ardente do sol do meio dia,
Para quando se aproximar à tardinha, o corpo cansado se recobre de ousadia.
Visto que a peleja nos ensina:
O jogo só acaba quando termina!

Quando eu não mais existir,
Se algum espaço dentro de ti, reservar para mim,
De que, há de queixar-se a eternidade?
Juntos estaremos por todos os segundos do tempo!
Juntos estaremos por fora, e por dentro.
Juntos estaremos, depois que eu não mais existir.
Se me fizeres eterno, dentro de ti.