quinta-feira, 22 de julho de 2010

Extermínio

Sangrou, e o desejo vociferou
A carne não dilacerar?
Somente d’alma se fartar?
De quê olho, o seu se espelhou?

Dizes de mim: decisão não terás
Digo e tu: quê decidirás?
Afora o tempo que aqui estou
Embora o julgo, que aqui tu fazes

Risque este peito
Rasgue, mas sem direito
Seja simetricamente perfeito
Que a dor num instante mate
Noutro, torne-se sem efeito.

Cicatriz na alma ou na carne
Aonde quiser, podereis tentar
Se amanhã resolveres continuar
Além do que há no peito
O que mais, poderás exterminar?

Matuta, guerreira


Não se poderia dizer que na vida foi meretriz, todavia, se jamais teve filho sem pai, também foi por um triz. Uns até diziam que fumava, bebia e cheirava, mas uma moça daquelas não deixaria estes vícios torná-la prisioneira, Mais fácil seriam os outros prazeres da carne, estes sim: ela mesma os aprisionar.
Matuta, guerreira. Sem eira nem beira, parecia zombar de tudo ao seu redor. Como se tudo aquilo fosse uma séria brincadeira de ciranda, sapateava sem música tocar, chorava sem lágrima rolar. Sofria sem ninguém ver!
Nas bandas donde vivia, sempre que amanhecia, se podia contar: os surdos juravam um canto escutar... Os cegos agitados sorriam "vendo" a moça passar. Até os moribundos por aquelas terras se deixavam contagiar...
Mas até que era fácil perceber que no peito a moça guardava não se sabe o quê, que vinha não se sabe da onde; e aquilo a sufocava por dentro, fazendo-a quase levitar, para logo depois no chão, àquela moça subjugar.
A última notícia que se teve dela, foi que um moço de asas, se pôs a moça abraçar. E foi com muito jeito, com muito carinho que o ouviram falar: não tenhas medo anjo, venho em missão de resgate, e para casa finalmente podereis retornar...Se nisso tudo é difícil de acreditar, não serei eu quem vai julgar.Mas quem conta esta história, são os cegos e mudos, que vivem pelas ruelas daquele lugar.